quinta-feira, 6 de agosto de 2009

'O contador de histórias' revê vida de ex-menino de rua


Longa-metragem nacional estréia nesta sexta-feira (07.08).

Trama traz biografia de Roberto Carlos Ramos.





A desastrosa política do menor no Brasil desde os anos 1970 é posta em foco neste filme de Luiz Villaça ("Por trás do pano" e "Cristina quer casar"), fixando-se na impressionante biografia de Roberto Carlos Ramos, uma rara história de um ex-menor de rua com final feliz. O filme entra em circuito nacional nesta sexta-feira (07.08).
Nascido nos anos 1970 em Belo Horizonte, Roberto era o caçula de uma família pobre com muitos filhos. Entregue à Febem (Fundação para o Bem-Estar do Menor) pela mãe, pessoa simples e ignorante que acreditava que ele teria um futuro melhor ali dentro, ele encarou o abandono e a violência, que no seu caso incluiu espancamentos, detenção em solitária e até estupro.

Analfabeto até os 13 anos, Roberto escapou deste quase sempre invencível círculo vicioso devido à intervenção de uma pedagoga francesa, Margherite Duvas (a atriz portuguesa Maria de Medeiros, de "O Xangô de Baker Street").
Graças a ela, estudou e conseguiu tornar-se, anos depois, um contador de histórias conhecido internacionalmente. Imitando a generosidade de sua protetora, ele mesmo adotou mais de 20 meninos - alguns que, como ele, já haviam sido tachados de "irrecuperáveis".



Adaptação


Os três garotos que interpretam o protagonista - Marco Antônio Ribeiro, Paulinho Mendes e Cleiton Santos - dividiram o troféu de melhor ator no Festival de Paulínia 2009, onde o filme também ganhou um Prêmio Especial do Júri.
Pontuada de incidentes trágicos mas também engraçados, a biografia de Ramos sofreu diversas adaptações neste roteiro, escrito por quatro profissionais - além do diretor Villaça, também José Roberto Torero, Maurício Arruda e Mariana Verissimo.
Condensa, por exemplo, num único personagem, a pedagoga Pérola (Malu Galli, da minissérie de TV "Queridos amigos"), a figura de diversas outras educadoras que passaram pela vida do menino, no período em que entrava e saía da Febem.
Apesar disso, "O contador de histórias" incorpora também um elemento documental ao inserir a narração em off do próprio protagonista e em sua aparição, na sequência final.





Narrativa


Um traço que alivia a narrativa é materializar as fantasias do menino - que são muitas e extremamente imaginativas - com o uso de animação e de recursos como música e figurino. Isto acontece, por exemplo, numa cena de assalto a banco em que os ladrões se vestem no estilo do grupo Jackson Five, ao som da música "Sá Marina", na voz de Wilson Simonal, recuperando também o clima dos anos 70.
Eventualmente, se pode ter a sensação em alguns momentos de que o comportamento da pedagoga é um tanto ingênuo - como na sequência em que um menor perigoso (Shady's Victor) entra em sua casa. Mas é importante lembrar que, além de estrangeira, vinda portanto de outra cultura, a história se passa há cerca de 30 anos. Por conta da inoperância das políticas para o menor no Brasil, infelizmente, a violência e criminalidade neste setor têm crescido de modo trágico.
Tal como aconteceu a Ramos, o filme começou a mudar a vida também de pelo menos um de seus atores-mirins, que nele estrearam. Paulinho Mendes, que o interpreta aos 13 anos, foi convidado a um estágio de atuação de seis meses no Grupo Galpão, de Belo Horizonte.


Ficha Técnica


Direção: Luiz Callaça
Produção: Francisco Ramalho Jr e Denise Fraga
Roteiro: Maurício Arruda, José Roberto Torero, Mariana Veríssimo, Luiz Villaça
Fotografia: Lauro Escorel
Montagem: Umberto Martins e Maria Altberg
Elenco: Maria de Medeiros, Malu Galli, Jú Colombo, Marco Antonio, Paulo Henrique, Cleiton dos Santos da Silva
Duração: 110 minutos
Ano de produção: 2009


2 comentários:

Unknown disse...

Olha, achei muito legal o blog, principalmente por divulgar a cultura brasileira que é tão desvalorizada. Acho que iniciativas assim devem ser tomadas e divulgadas. Parabéns professor!
Amei o artigo e com certeza fiquei com vontade de ver o filme, acho que esta é a intenção.
Obs.: só uma questão me chamou atenção neste artigo, o fato de se usar o termo "estupro", é que contra o sexo masculino só deve ser usado o termo "atentado violento ao pudor".

Júlia Mariano disse...

Marcelo, muito interessante, ne? Estou louca para ver a fotografia do filme, principalmente a parte do circo, com as perucas malucas e as roupas de papel de presente. Deve ter umas cores muito legais e o diretor de fotografia disse que usou uma iluminação mais simples, sem muitos efeitos... Vamos assistir juntos?