quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Imagens de síntese: o limite do real. Avatar, a nova e tecnológica produção de James Cameron




Diretor de Titanic retorna com a superprodução Avatar. Longa-metragem é aventura de ficção científica com orçamento mais caro da história de cinema

Tem se tornado lugar-comum no cinema norte-americano que o orçamento de um filme faça parte das manchetes sobre a produção, mas, no caso de Avatar, que tem pré-estreia nacional hoje, os números são realmente impressionantes: com um custo estimado em US$ 500 milhões de dólares, o longa-metragem é o mais caro da história do cinema. O filme marca o retorno, depois de 12 anos, de James Cameron à telona. Seu último filme foi Titanic, fenômeno que teve um faturamento de cerca de US$ 2 bilhões, a maior bilheteria de todos os tempos.

Seu novo trabalho é uma ficção científica feita com tecnologia digital revolucionária, elevando a computação gráfica a efeitos até então nunca vistos, com atores reais servindo de base para criaturas virtuais. As sessões de pré-estreia começam hoje em algumas salas a partir das 20 horas e entram normalmente em cartaz amanhã, ocupando cerca de 600 salas no País.

Na trama, os seres humanos estão de olho num planeta chamado Pandora, cujos habitantes são seres azuis, meio homens meio elfos, com alguns poderes especiais. Pandora tem em seu subsolo enormes quantidades de uma substância que é fundamental para a sobrevivência da humanidade e por isso os terráqueos dedicam-se a monitorar os habitantes do planeta. Nesta espécie de guerra, os humanos criam um tipo diferente de espião para poder descobrir as fontes de energia de Pandora: graças a experiências genéticas, cientistas conseguem misturar o DNA humano ao das criaturas que querem dominar, um híbrido batizado como avatar.

Os humanos montam uma colônia de ocupação em Pandora, mas precisam se infiltrar entre eles – daí a importância estratégica dos avatares. O conflito da narrativa se instala quando um desses avatares, ao conhecer de perto os alienígenas azuis, reconhece os valores desta civilização e passa a questionar a atitude predatória dos próprios humanos. Trata-se de Jake Sully, um ex-fuzileiro naval que ficou preso a uma cadeira de rodas e aceita participar da experiência de ser um avatar, sem imaginar o universo de maravilhas, descobertas e perigos que viria pela frente.

O objetivo dos humanos é explorar o minério raro unobtanium, que pode ser a chave para solucionar a crise energética da Terra. Como a atmosfera de Pandora é tóxica, foi criado o Programa Avatar, em que “condutores” humanos têm sua consciência ligada a um avatar, um corpo biológico controlado à distância capaz de sobreviver nesse ar letal.


Metáfora

Na estreia do filme em Londres na semana passada, o diretor declarou à imprensa que a história pode ser compreendida como uma metáfora sobre como a humanidade trata o planeta e sobre o futuro que nos espera. Em Avatar, que se passa no século 22, a Terra enfrenta uma crise energética que coloca em risco a sobrevivência de nossa própria espécie.

“É uma metáfora, não tão politizada como alguns gostariam, sobre como tratamos nossos recursos naturais”, disse o cineasta. “É como se disséssemos: estamos aqui, somos grandes, temos as armas, a tecnologia, o cérebro; e podemos fazer o que quisermos deste planeta, mas não funciona assim e vamos descobrir isto da pior forma se não refletirmos e buscarmos uma vida de equilíbrio com os ciclos naturais da vida na Terra.”




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Avatar: EUA/2009
Direção: James Cameron
Elenco: Sam Worthington, Zoe Saldana, Sigourney Weaver, Lola Herrera e Joel David Moore
Cines: Cinemark 8, SR Flamboyant 4, SR Flamboyant 2, SR Flamboyant 7, SR Goiânia 4 e 5, Buriti 5 e 2
Por Rute Geudes - O Popular - Magazine - 17.12.09

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A Cruz do Anhanguera

Por José Mendonça Teles*

O Popular - Magazine - 16.12.2009



Primeiro, uma historinha: Luís do Couto, pai da renomada artista plástica Goiandira do Couto, que nasceu na cidade de Goiás em 1884 e lá faleceu em 1948, era juiz de Direito em Catalão no ano de 1917, e como a obrigação de juiz é ler processo e julgar, imagino que um dia, com o saco cheio dessas pendengas jurídicas, deu um basta: – Chega, gente, estou cansado, durante uma semana vou fazer o que mais gosto, poesia e caminhar. E olha que o nosso personagem já era autor de dois livros de poemas, Violetas (1904) e Lilazes (1913), portanto, bem respeitado na cidade não só pela sua função judicante, mas pelos dons literários.

Naquele tempo, Catalão era conhecida como a “Atenas de Goiás”, antes da chegada de um engraçadinho que contestou: – Catalão? É apenas Goiás! Mas isso é outra história, vamos ao que interessa: e o poeta Luís do Couto saiu a caminhar. “Vou buscar a rota do Anhanguera”, disse e, convidando alguns amigos para acompanhá-lo, pôs o pé na estrada.

Depois de andar bastante e já consciente de que estava no mesmo caminho do bandeirante, Luís do Couto e companheiros pararam às margens de um ribeirão para pegar o “boião”. Descansado, o poeta começou a perambular por ali, quando viu um pedaço de aroeira, lavrada, já carcomida pelos anos, no meio de uma saroba. Achou estranho, pois naquele deserto goiano aroeira trabalhada era peça rara. Aguçando a curiosidade, andou mais um pouco e viu, entre árvores altas, outro pedaço de aroeira, também lavrada e danificada, desta feita fincada no chão. Estava decifrado o teorema: os dois pedaços de aroeira formavam a cruz do Anhanguera, deduziu o poeta, depois de decifrar, com dificuldade, a inscrição, quase apagada, de “1722”.

Conhecedor da história de Goiás, sabia o poeta que Bartolomeu Bueno saíra de São Paulo, em direção a Goiás, acompanhado de 200 homens, entre eles os sacerdotes George (beneditino) e frei Cosme (franciscano), que cuidaram da parte espiritual da tropa. Retornando da excursão, Luís do Couto comunicou às autoridades o seu achado e a notícia correu o País. Chegou aos ouvidos do governador (naquele tempo era presidente) de São Paulo, que se achou no direito de reivindicar a cruz para o seu Estado: – A cruz é nossa, mande-a imediatamente, telegrafou ao presidente de Goiás, Olegário Pinto.

Os goianos reagiram dizendo não, e Luís do Couto a levou para Ipameri e de lá a transportou para a cidade de Goiás, onde foi erigido, por iniciativa do poder público e de escritores, entre eles Americano do Brasil e Joaquim Bonifácio de Siqueira, o monumento que ficou conhecido como a Cruz do Anhanguera, no mesmo local onde existira a Igreja da Lapa, levada pela enchente de 1839.

Terminada a historinha da cruz do Anhanguera e seu benfeitor, o juiz-poeta Luiz do Couto, homenageio nesta crônica a notável amiga, amigona de paixão apaixonada, a universal pintora das areias Goiandira do Couto, filha de Luiz do Couto, que na altura de seus 90 e tantos anos representa o símbolo maior do patrimônio cultural vilaboense.

* José Mendonça Teles é escritor e historiador goiano.