sábado, 23 de maio de 2009

II Encontro Nacional de Estudos da Imagem


Entre os dias 12 e 14 de maio de 2009, ocorreu nas dependências do Centro de Letras e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Londrina o II Encontro Nacional de Estudos da Imagem - II ENEIMAGEM que contou com vários pesquisadores goianos, entre eles: Prof. Ms. Marcelo Costa, Profª Ms. Ana Rita Vidica, Profª Esp. Júlia Mariano, Prof. Esp. Rafael Castanheira, Prof. Ms. Saulo Dallago e Profª Dr.ª Rosana Horio e a graduanda em Publicidade da UCG Mariana Capeletti.

A proposta do evento estava atrelada ao incentivo e desenvolvimento do conhecimento científico sobre os estudos da imagem no Brasil e, particularmente na região norte do Paraná, assim como no restante do Estado, fortalecendo os grupos de pesquisa já formados e estimulando a formação de outros. O Encontro apresentou êxito quanto ao seu caráter multidisciplinar, ao envolver pesquisadores das mais diversas áreas de conhecimento e instituições.


RESUMO
O presente estudo pretende estabelecer uma relação entre o desenrolar histórico de Goiás e de Goiânia e a construção da identidade regional goiana, bem como visualizar elementos identitários impregnados em monumentos públicos que permeiam o cenário urbano de Goiânia por meio de uma análise imagética.
Palavras-chave: Identidade, regionalismo, monumentos públicos



OBRAS ANALISADAS:

1. Vitrais do Palácio das Esmeraldas







Fachada do Palácio das Esmeraldas onde os vitrais estão instalados.



Vitral do 1º andar


Vitral do 2º andar


São 71 anos de história. De 1937 até os dias atuais, nenhum governante deixou de ocupar suas dependências. O Palácio das Esmeraldas tornou-se o principal cenário dos acontecimentos políticos, por ser a sede dos despachos oficiais e dos eventos sociais e ainda por servir de residência ao governador do Estado e à primeira-dama.

Na fachada frontal do Palácio das Esmeraldas, no primeiro e segundo andar, estão localizados os vitrais de autoria do russo Conrado Sorgenitch, o mais importante profissional do gênero no país no período. Não se sabe ao certo a data exata da execução da obra, provavelmente nos anos de 1936 ou 1937, data da inauguração do prédio.
Mesmo ávido em romper com as amarras do atraso que Goiás tinha impregnado em seu passado histórico, Pedro Ludovico deixa registrado nas janelas de “seu palácio” tais cenas que ele próprio usou como argumento para a transferência da nova capital.



2. Boiada - Projeto Galeria Aberta
Boiada - década 1980


O Projeto Galeria Aberta foi uma iniciativa do Governador Henrique Santillo no final da década de 1980. Que objetivava levar arte ao grande público, além de divulgar os artistas plásticos do Estado. Foram expostos noventa painéis em edifícios, cento e onze em ônibus e carros, com a divulgação, ao todo, de cento e trinta artistas.

A obra analisada é intitulada Boiada e de autoria da artista plástica Alcione Guimarães que é natural de Goiânia, e desde 1963 apresenta seus trabalhos em exposições individuais e coletivas em Goiás e outros Estados. Utilizando-se da pintura, ela desenvolve uma temática em torno dos elementos do mundo rural, expressando a diversidade dos homens, animais e paisagens em suas relações e singularidades.

Os painéis em estudo estão divididos em três partes, uma em cada torre do edifício, em perspectiva como se os animais viessem em direção ao observador, a artista optou pelo contraste do branco do gado e o verde da pastagem com tons amarronzados da paisagem rural. Todo o lirismo da identidade rural goiana foi depositado nos painéis de Alcione, ela soube traduzir como ninguém o espírito de fazendeiro que existe em cada morador dessa cidade. A obra estava localizada nas paredes do Edifício Tropical, situado na Avenida Goiás, no Centro da cidade, a alguns quarteirões da Praça Cívica.

Uma obra de grandes dimensões é acoplada a paisagem da cidade e ao cotidiano da população que nela vive. Durante mais de vinte anos a boiada de Alcione esteve sob os olhares cuidadosos dos goianienses.

Desde o início do ano de 2005 a Boiada de Alcione Guimarães deixou de compor o cenário urbanístico de Goiânia, conforme entrevista concedida ao Jornal O Popular em 9 de fevereiro de 2004, o síndico do Edifício Tropical, Wanderley Alves Xavier, interessado em pintar a fachada do prédio, manifestou o interesse em manter a obra, porém, sem recursos para custear a restauração. “O prédio está passando da hora de ser pintado. Ainda não fizemos porque queremos manter os painéis, o que exige recursos e mão-de-obra especializada. É uma ofensa à cidade a gente mandar passar tinta sobre os painéis”. Porém sem recursos, sem apoio estatal e sem patrocínio a solução encontrada pelo condomínio do edifício foi apagar a obra.



3. Portinhola Funerária









Túmulo 4 - Quadra D

Arquitetura moderna - década 1960



Portlinhola em bronze localizada na parte frontal do túmulo.


Para Maria Elízia Borges (2002) a arte funerária, mantém um forte vínculo com as representações do luto, alicerçadas no discurso religioso, moral e econômico do grupo social a que serve. Neste caso, em que Goiânia possui uma origem tipicamente agrária, é comum encontrar nas representações fúnebres elementos ligados ao ideário rural. A obra funerária reflete a mentalidade da época e o gosto do grupo social dominante de que procede, portanto, nada mais justo encontrar este tipo de representação em uma cidade onde boa parte da burguesia, mesmo sendo proprietário de propriedades rurais, se escondiam nas figuras de profissionais liberais como médicos e advogados, que segundo Chaul (1997, p.224) “tratava-se de uma mentalidade urbana com os pés plantados em solo rural”. O túmulo é de arquitetura moderna, mas, o motivo artístico é rural.

Os cemitérios são lugares de memória do morto e da sociedade, por isso propiciam o acesso a uma modalidade de construção veiculadora de determinado ideário estético. Para Valadares “ninguém deverá procurar em cemitérios brasileiros, obras de arte acima do nível cultural da sociedade”. Esta obra fúnebre ilustra não somente o ideário estético e ideológico do morto que ali jaz, mas também da sociedade em que viveu, do seu período histórico e do grupo social que foi pertencente e que ainda agora representa.


Concluindo, na diversidade artística do Estado, observamos três obras, com funções estéticas distintas, porém, com um mesmo sentido, representar simbolicamente o pensamento humano presente no coração de Goiânia, por entender que são reflexos da identidade regional goiana.

Talvez Saint-Hilaire durante sua viagem ao Estado, não imaginasse que Goiás, um dia, pudesse contar com uma capital do porte urbanístico de Goiânia. Mesmo com todas as prerrogativas, de manutenção do poder, auto-afirmação como líder político, ou mesmo um projeto nacional, os créditos da construção de Goiânia devem ser dados a Pedro Ludovico Teixeira e seus correligionários mudancistas. Realmente a mudança da capital, abriu um novo capítulo na história goiana.

Mesmo com um ideário modernista e de progresso, onde abolia-se qualquer vínculo com o passado arcaico, Goiânia não conseguiu se livrar do estigma ruralista em que foi concebida. Em pleno século XXI se tornou uma cidade moderna e populosa, porém, marcada a ferro com a simbologia rural presente em seus monumentos, prédios públicos e obras artísticas. No grande curral de concreto, a boiada “transita” livremente, o sinal sempre está livre.

3 comentários:

Júlia Mariano disse...

Realmente quem não viu, perdeu uma bela apresentação! Muito bem elaborada e apresentada! Quando eu crescer, quero ser assim como você. risos

Anônimo disse...

Olá, Meu nome é Raquel. Sou aluna de Letras da UFRJ. Eu li o artigo do professor Saulo Dallago, que foi apresentado neste encontro. Estou justamente pesquisando este assunto.
Gostaria muito de conseguir o e-mail, ou alguma forma de entrar em contato com este professor. Se puder me ajudar eu agradeço muito. Desde já obrigada.
Meu e-mail é raquelmasil@yahoo.com.br

Beatriz Dallago disse...

Eu conheco ele :) eh meu irmao!