segunda-feira, 22 de junho de 2009

"Corumbiara" é o grande vencedor 11º FICA

Troféu Cora Coralina e R$ 50 mil vão para o filme pernambucano de Vincent Carelli, que conta o que restou das evidências de um massacre de índios na Gleba Corumbiara em Roraima (RO)

Por Fabrizio Giuvannucci - aluno 6º período do curso de jornalismo da UCG
www.catolicadigital.ucg.br


Foto: Fabrizio Giuvannucci
Terra, água, fogo e ar trazem à tona a metáfora dos elementos que formam o todo em harmonia com as partes. Essa relação orgânica está expressa na obra/Troféu Cora Coralina do pernambucano Vincent Carelli, diretor de Corumbiara, maior destaque da 11ª edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica). O filme, com aproximadamente duas horas de projeção, conta o que restou das evidências de um massacre de índios na Gleba Corumbiara – RO.



Com o Troféu José Petrillo e R$ 40 mil, Sara Vitória, diretora de Ressignificar, que reflete a questão do lixo tecnológico e a produção audiovisual, se torna uma companheira de prêmio de Carelli.

Outro filme goiano que teve destaque na premiação do Fica, e conseguiu o Troféu João Bennio e R$ 40 mil, é Próxima Mordida, de Ângelo Lima, que narra como a degradação do meio ambiente contribui para o crescente número de vítimas de ataque de tubarões em Recife – PB.

Linda Monteiro, presidente da Agepel, anunciou na cerimônia de premiação o crédito dado pelo governador Alcides Rodrigues no valor de R$ 400 mil para cinco curta-metragens nos gêneros ficção, documentário e animação. A data de abertura das inscrições será publicada no prazo de dez dias.

Confira abaixo a lista de premiados completa.


LISTA OFICIAL DOS PREMIADOS DO XI FICA

Menção Honrosa (Sem premiação em dinheiro) – Melhor curta-metragem: C’Est Pas Grave (Não é Nada), de Yacine Sersar - França.

Menção Honrosa (Sem premiação em dinheiro) – Melhor média-metragem: Bode Rei, Cabra Rainha, de Helena Tassara - Brasil/SP.

Menção Honrosa (Sem premiação em dinheiro) - Melhor média-metragem: Dying in Abundance (Morrendo em Abundância), de Yorgos Avgeropoulos - Grécia.

Troféu Imprensa (Sem premiação em dinheiro) - Cabe ao melhor filme, eleito pelos profissionais da imprensa que participam da cobertura do XI FICA - A Árvore da Música, de Otávio Juliano – Brasil/SP

Troféu Luiz Gonzaga Soares (Sem premiação em dinheiro) – Conferido pelo júri popular, contemplando o melhor filme na visão do público.- Júri Popular: Kalunga, de Luíz Elias, Pedro Nabuco e Sylvestre Campe/ Brasil – GO.

Troféu Carmo Bernardes – R$ 25 mil – Oferecido à melhor série televisiva: Pa Verdens Bund (Por Trás do Mundo), de Jakob Gottschu/ Dinamarca.

Troféu Acari Passos – R$ 25 mil – Para o melhor curta-metragem: Mar de Dentro, de Paschoal Samora/ Brasil – SP.

Troféu Jesco Von Putkamer – R$ 25 mil - Para o melhor média-metragem: Arrakis, Andrea di Nardo/ Itália.

Troféu Carmo Bernardes – R$ 35 mil - Destinado ao melhor longa-metragem: A Sea Change (Mudança no Mar), de Barbara Ettinger/ EUA.

Troféu José Petrillo – R$ 40 mil – Primeira melhor produção goiana: Ressignificar, de Sara Vitória/ Brasil – GO.

Troféu João Bennio – R$ 40 mil – Segunda melhor produção goiana: A Próxima Mordida, Ângelo Lima/ Brasil - GO

Troféu Cora Coralina – R$ 50 mil - O grande prêmio do XI FICA, conferido ao maior destaque do Festival - Corumbiara, de Vincent Carelli/ Brasil – PE.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Intercom Centro-Oeste 2009


A Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação - Intercom - é uma associação científica sem fins lucrativos, fundada em São Paulo, a 12 de dezembro de 1977, que objetiva, entre outras coisas, contribuir para a reflexão pluralista sobre os problemas emergentes da comunicação.

Com o intuito de aproximar as discussões sobre o campo da comunicação das diversas realidades regionais, realizam-se anualmente encontros em todas as regiões brasileiras. Sendo assim aconteceu entre os dias 04 e 06 de maio no IESB em Brasília o 11º Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste que teve no topo de suas discussões a temática: “Comunicação, Educação e Cultura na era Digital”.

Dentre as inúmeras comunicações científicas proferidas no congresso o professor Marcelo Costa apresentou no grupo de trabalho Comunicação Audiovisual o estudo intitulado: A identidade de Goiânia através de um olhar publicitário.









Prof. Marcelo Costa durante exposição de seu trabalho no GT Comunicação Audiovisual.

A identidade de Goiânia através de um olhar publicitário

Dentro de um contexto publicitário, para Everardo Rocha, os anúncios publicitários revelam muito do que a sociedade pensa sobre ela mesma. E conseqüentemente, sendo a publicidade, um produto social produzido para esta mesma sociedade, ela sempre buscará preencher as lacunas individuais de cada receptor, porém, unindo o indivíduo ao corpo social/grupal. O autor afirma ainda que estudar a produção publicitária é um caminho para o conhecimento de sistemas de idéias e representações do pensamento de um grupo social.

Pensar sob um ponto de vista antropológico a propaganda local implica em procurar estranhar algo que participa ativamente do nosso cotidiano. Esse estranhamento deve ser buscado quando se trabalha com algo que nos é familiar, quando tentamos pensar nossa própria sociedade, assim pensa Roberto Damatta.

Neste trabalho objetivou-se realizar um levantamento detalhado dos procedimentos de expressão e de linguagem utilizados pelo cinema: isso, naturalmente, numa perspectiva acima de tudo estética dos filmes publicitários veiculados pela prefeitura de Goiânia entre os anos de 2001 e 2004. Buscando interpretar o significado antropológico, social e cultural das imagens e a relação desses significados na identidade da capital, apresentada nos filmes.

VT Goiânia é bom demais da conta
Anunciante: Prefeitura de Goiânia

A quantidade de imagens apresentadas ao expectador no VT é imensa, em 90 segundos de filme, são expostos 68 takes o que perfaz uma média de 1,3 segundo por take. Isso se dá devido à necessidade de apresentar uma grande quantidade de informações a cerca da mensagem pretendida, em um pequeno espaço de tempo, que geralmente varia entre 15 e 90 segundos.

Ao se analisar a letra do jingle utilizado no filme, percebe-se que o início é marcado por uma catira, conhecida também em algumas regiões como cateretê. Essa é uma dança típica dos territórios colonizados pelos bandeirantes, ou seja, interior de São Paulo, Triângulo Mineiro, Sul da Bahia e Goiás, que possuem usos e costumes semelhantes. A letra é rica em expressões e manifestações da cultura popular: “É na catira, no balanço, na folia, na dança da bela moça que a viola vai tocar. Tem buriti, tem pequi, tem guariroba, é aqui que eu sou feliz, é Goiânia o meu lugar”. Além da catira, a moda de viola, a folia de Reis e do Divino são importantes manifestações culturais do interior de Goiás que foram também incorporadas às manifestações da capital pelos que vieram durante o povoamento da cidade. A culinária, o pequi, o buriti, a guariroba, comidas típicas da regionalidade goiana. Para Suely Molina os “elementos constitutivos de uma “goianidade” – traços, manifestações e práticas culturais - , articulados à alimentação, os quais agem como indicadores que, além de permitirem marcar e demarcar um grupo, envolvem pertencimentos” (2001, p.139). Sendo assim, a música da catira tem um papel rítmico no início do filme, agregada a todo o simbolismo dos elementos ressaltados.

O passado histórico, as aventuras heróicas dos bandeirantes e da tribo indígena Goyá são expressos também na letra do jingle, “Os Goiazes, as bandeiras, a conquista desse chão, a coragem dessa gente, a raiz e a tradição”. Retomando o que Boaventura Santos diz, quanto a mutabilidade e a instabilidade das identidades, devemos considerar que as identidades culturais não são rígidas, são processos inacabados, em processo de construção. A retomada das raízes, das tradições, do passado histórico e de seu enaltecimento, acabam por reforçar esses elementos na medida em que são buscados na memória afetiva e simbólica do espectador.

Com um ritmo de balada, o filme entra em uma freqüência mais reflexiva, o passado histórico é lembrado, e a alegria de se viver em Goiânia é valorizada de maneira romântica, fazendo alusão ao cerrado e ao luar.

No último período sonoro da peça publicitária, o ritmo volta a ser vibrante e a máxima utilizada é uma expressão muito usada pelo povo goiano: “bom demais da conta”. Dentro da letra da música “Goiânia assim é bom demais, viver aqui é bom demais da conta. A gente ama e trabalha pra fazer, Goiânia assim é bom demais da conta”. Durante toda a campanha essa expressão foi excessivamente utilizada, na tentativa de gerar um processo de identificação, via elementos da identidade regional, junto ao público alvo da prefeitura, ou seja, a população de Goiânia.

A preocupação na associação da imagem de crianças, meio ambiente, idosos são evidentes podendo ser quantificados, através da contagem do número de vezes em que estes personagens aparecem. A exposição percentual ficou assim distribuída em quantidades de aparições: crianças – 33%, áreas verdes – 21%, elementos regionalistas – 13% e idosos 5%. A figura da criança está diretamente relacionada à humanização, sendo transferida à imagem da prefeitura, uma instituição, que segundo a publicidade, se preocupa com a humanização de suas ações. Teoricamente idosos e crianças são classes desprotegidas, que necessitam de especial atenção. A forma como essas figuras são mostradas, transmitem a idéia de segurança: em Goiânia, crianças e idosos são bem tratados pela prefeitura. As áreas verdes apelam para o aspecto ecológico da cidade, valorizam um urbanismo ecologicamente correto que conjuga concreto e meio ambiente harmonicamente.

A discussão sobre a modernidade, ou não, de Goiânia não fica por aqui. A busca por uma denominação para a identidade cultural, uma possível “goianidade” também não. Ao analisarmos historicamente a trajetória do surgimento de Goiânia, evidencia-se a preocupação com a implantação de um espírito moderno e desenvolvimentista no sertão brasileiro, a construção de uma nova capital no centro-oeste brasileiro foi o grande símbolo capaz de traduzir todo esse sentimento. E para os padrões e condições dispostas pelo Estado na época, Goiânia foi a modernidade possível.

Goiânia é hoje moderna a seu jeito, idealizada para ser uma cidade culta, mescla na sua face elementos que nos mostram o futuro, mas não nos deixa esquecer o passado, abrindo novas possibilidades de diálogo.

Em constante mutação, a formação da identidade da cidade está em trânsito, na tentativa de conviver com as tradições, sejam elas da antiga Cidade de Goiás, sejam elas de outras regiões do país, sejam elas nascentes aqui mesmo e com as novas oportunidades que o mundo contemporâneo globalizado coloca à sua frente.