O presente estudo pretende estabelecer uma relação entre o desenrolar histórico de Goiás e de Goiânia e a construção da identidade regional goiana, bem como visualizar elementos identitários impregnados em monumentos públicos que permeiam o cenário urbano de Goiânia por meio de uma análise imagética.
Palavras-chave: Identidade, regionalismo, monumentos públicos
OBRAS ANALISADAS:
2. Boiada - Projeto Galeria Aberta
O Projeto Galeria Aberta foi uma iniciativa do Governador Henrique Santillo no final da década de 1980. Que objetivava levar arte ao grande público, além de divulgar os artistas plásticos do Estado. Foram expostos noventa painéis em edifícios, cento e onze em ônibus e carros, com a divulgação, ao todo, de cento e trinta artistas.
A obra analisada é intitulada Boiada e de autoria da artista plástica Alcione Guimarães que é natural de Goiânia, e desde 1963 apresenta seus trabalhos em exposições individuais e coletivas em Goiás e outros Estados. Utilizando-se da pintura, ela desenvolve uma temática em torno dos elementos do mundo rural, expressando a diversidade dos homens, animais e paisagens em suas relações e singularidades.
Os painéis em estudo estão divididos em três partes, uma em cada torre do edifício, em perspectiva como se os animais viessem em direção ao observador, a artista optou pelo contraste do branco do gado e o verde da pastagem com tons amarronzados da paisagem rural. Todo o lirismo da identidade rural goiana foi depositado nos painéis de Alcione, ela soube traduzir como ninguém o espírito de fazendeiro que existe em cada morador dessa cidade. A obra estava localizada nas paredes do Edifício Tropical, situado na Avenida Goiás, no Centro da cidade, a alguns quarteirões da Praça Cívica.
Uma obra de grandes dimensões é acoplada a paisagem da cidade e ao cotidiano da população que nela vive. Durante mais de vinte anos a boiada de Alcione esteve sob os olhares cuidadosos dos goianienses.
Desde o início do ano de 2005 a Boiada de Alcione Guimarães deixou de compor o cenário urbanístico de Goiânia, conforme entrevista concedida ao Jornal O Popular em 9 de fevereiro de 2004, o síndico do Edifício Tropical, Wanderley Alves Xavier, interessado em pintar a fachada do prédio, manifestou o interesse em manter a obra, porém, sem recursos para custear a restauração. “O prédio está passando da hora de ser pintado. Ainda não fizemos porque queremos manter os painéis, o que exige recursos e mão-de-obra especializada. É uma ofensa à cidade a gente mandar passar tinta sobre os painéis”. Porém sem recursos, sem apoio estatal e sem patrocínio a solução encontrada pelo condomínio do edifício foi apagar a obra.
3. Portinhola Funerária
Túmulo 4 - Quadra D
Arquitetura moderna - década 1960
Portlinhola em bronze localizada na parte frontal do túmulo.
Para Maria Elízia Borges (2002) a arte funerária, mantém um forte vínculo com as representações do luto, alicerçadas no discurso religioso, moral e econômico do grupo social a que serve. Neste caso, em que Goiânia possui uma origem tipicamente agrária, é comum encontrar nas representações fúnebres elementos ligados ao ideário rural. A obra funerária reflete a mentalidade da época e o gosto do grupo social dominante de que procede, portanto, nada mais justo encontrar este tipo de representação em uma cidade onde boa parte da burguesia, mesmo sendo proprietário de propriedades rurais, se escondiam nas figuras de profissionais liberais como médicos e advogados, que segundo Chaul (1997, p.224) “tratava-se de uma mentalidade urbana com os pés plantados em solo rural”. O túmulo é de arquitetura moderna, mas, o motivo artístico é rural.
Os cemitérios são lugares de memória do morto e da sociedade, por isso propiciam o acesso a uma modalidade de construção veiculadora de determinado ideário estético. Para Valadares “ninguém deverá procurar em cemitérios brasileiros, obras de arte acima do nível cultural da sociedade”. Esta obra fúnebre ilustra não somente o ideário estético e ideológico do morto que ali jaz, mas também da sociedade em que viveu, do seu período histórico e do grupo social que foi pertencente e que ainda agora representa.
Concluindo, na diversidade artística do Estado, observamos três obras, com funções estéticas distintas, porém, com um mesmo sentido, representar simbolicamente o pensamento humano presente no coração de Goiânia, por entender que são reflexos da identidade regional goiana.